Elevador - Terceiro Capítulo
26 de março de 2009 | Postado por Carla às 22:12 0 comentários
Conviver
Uma pessoa com quem convivi mais intensamente durante uma semana me contava que certa vez seu marido e ela haviam saído para jantar com uma amiga. Ele (que chamarei de Aristeu para preservar a sua identidade) não conhecia a tal amiga (que nomearei de Julieta). Durante o jantar as duas conversavam incessantemente e o pobre Aristeu quieto. Sempre ficava assim frente a desconhecidos.
De repente um silêncio sepulcral tomou conta da mesa e a convivência daquelas horas permitiu que Aristeu fosse sincero. Ele apontou para Julieta e sem delongas sentenciou: “você está com um feijão no dente”.
Coisa bonita é essa tal sinceridade que a convivência nos proporciona. É incrível ver as pessoas gritarem “caralho se não te pego, filho da puta!” quando enfim matam aquele mosquito que estava deixando todos irritados.
Conviver é aprender.
Como poderia saber que a pleura é a pelezinha que recobre nossos pulmões? Como saberia detalhes de um procedimento de sonda vesical? E a teoria da Dispersão de Michel Foucault? E você sabe como pular uma cerca para entrar num dos mais movimentados eventos literários do país?
25 de março de 2009 | Postado por Leo às 20:31 2 comentários
Elevador - Capítulo II
O elevador não estava lá. Podia ver aquele imenso fosso que se apresentava vertiginosamente acima de sua cabeça. Não, aquele não era um dia legal. Resolveu tirar o sapato de salto e subir até seu andar pelas escadas. Não seria um caminho agradável, afinal eram inúmeros degraus até o 15º andar. No caminho pouco utilizado, e reservado apenas para emergências como aquela, encontrou coisas estranhas.
Entre baratas e outros insetos jazia no esquecimento uma meia branca abandonada do 4º andar. Mais acima com o fôlego debilitado e a distância entre os degraus aumentando cada vez mais encontrou um vizinho de um apartamento qualquer que vira poucas vezes. Ele também se embrenhava no esforço de vencer cada andar com o fôlego de quem está acostumado a elevadores, escadas rolantes e muito ar condicionado.
Ele estava com o rosto visivelmente cansado, enrubescido e suado. As espinhas não combinavam com ele. Aparentava ter saído da puberdade já há alguns anos, podia estar enganada.
- Olá – ele disse como que num último suspiro
- Oi – respondeu ela tentando ser simpática naquela situação
Depois de três andares de conversa descobriu que ele se chamava Tiago e morava no apartamento de frente ao seu. Estranho nunca ter prestado atenção nele. Depois de mais alguns andares começou a achá-lo engraçado.
Tiago nunca tinha prestado atenção em Amanda. Não que ela não fosse bonita, apenas nunca a tinha visto tão de perto. As pessoas quando olhadas de perto são muito diferentes. Conversaram mais um pouco enquanto no alto das escadas aparecia a placa que indicava o 15º andar. Riram da situação. Parecia que tinham conquistado o prêmio em alguma maratona.
De frente para as respectivas portas despediram-se. Tiago entrou no número 1502. Amanda colocou a chave na porta do 1501, resolveu girá-la. Não acreditava que aquilo estava acontecendo de novo.
O que estaria acontecendo? Seria mais uma artimanha lazarenta do destino? Alguma coisa poderia salvar o dia de Amanda? Confira no próximo capítulo.
24 de março de 2009 | Postado por Leo às 21:15 0 comentários
Elevador
23 de março de 2009 | Postado por Carla às 23:26 0 comentários
A história de Chapeuzinho Vermelho
Obs.: a imagem combina com a sexta descrição!
Acompanhe:
JORNAL NACIONAL
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um Lobo na noite de ontem...'.
(Fátima Bernardes):'... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.
PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo): '... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'
BRASIL URGENTE
(Datena): '... onde é que a gente vai parar, cadê as Autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.'
REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo
REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no Caminho
REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama
FOLHA DE S. PAULO
Legendada foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador'.Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT
O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente
ZERO HORA
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS
AGORA
Sangue e tragédia na casa da vovó
JORNAL SUPER NOTÍCIAS
Lobo mastiga as tripas da chapeuzinho e lenhador destrói tripas do lobo para retirar a garota (foto ao lado da barriga do lobo com as tripas pra fora).
REVISTA CARAS (Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa'
PLAYBOY (Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu
REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente
SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! Mito ou verdade?
DISCOVERY CHANNEL
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.
Postado por Leo às 20:16 2 comentários
O que é ser hiperbólico ou de onde veio o blog
16 de março de 2009 | Postado por Carla às 23:44 0 comentários
Eu comigo
Postado por Carla às 00:22 1 comentários
Necessidades obscuras
Qualquer cachorro satisfaria sua necessidade obscura à vista de todos com a maior cara de pau. Mas Spike não, ele era um cachorro diferente. Segundo meu amigo era educado. Nunca tinha parado para pensar nisso. Alguns cachorros fazem suas necessidades na frente de todo mundo, enquanto outros se escondem para fazê-lo. É estranho.
9 de março de 2009 | Postado por Leo às 21:37 2 comentários
Inútil! A gente somos inútil!
Todo mundo com certeza já deve ter presenciado um INÚTIL em ação. Eles estão por toda a parte. Na construção perto de sua casa ensaiando a Sinfonia da Marreta em pleno sábado de manhã. Em momentos especiais como formaturas, aniversários e outras festividades para garantir que a Lei seja cumprida: Se algo tem alguma chance de dar errado, dará!
7 de março de 2009 | Postado por Leo às 13:51 0 comentários
Noção?!
Postado por Carla às 00:40 1 comentários
Danoninho
Olhou para frente mais uma vez e teve certeza: era ele. Poderia se esconder entre as dezenas de prateleiras do supermercado, mas correr o risco de ser vista fugindo entre as bananas e as melancias era infinitamente pior. Ele estava de lado, colocando um cacho de uva branca num saco plástico. Quando fosse pesar suas frutas, obviamente a veria. O que fazer? Disfarçar? Sorrir? Erguer um melão pra tapar o rosto? Os quatro milésimos que restavam não foram suficientes para tomar uma decisão tão complexa.
Eduardo viu Luisa. Viu suas havaianas slim, viu sua blusinha verde e viu seu short jeans. Ela viu seu tênis nike, sua bermuda azul e sua camiseta branca. E seu sorriso com uma centena de dentes brancos, seus olhos escorrendo açúcar e seu cabelo meio em pé. O estômago de Luísa doeu nessa hora. Comoassim a encontrar no supermercado numa tarde de sábado? Que a encontrasse na rua, descabelada e com sorvete no canto da boca, mas não com aquela cara de criança assustada que tinha certeza que estava estampando. Tarde demais. Tinha que se mostrar adulta, bem resolvida, interessante, magra, inteligente, educada, feliz e simpática.
Ele: Oi!
(beijo na bochecha)
Ela, três tons mais vermelha: Comoassim, você aqui?!
Ele, dando um soco no estômago dela com seu sorriso: É, tava aqui perto e lembrei que precisava de umas coisas...
Ela: Uvas?
Ele: Não, as uvas não estavam nos planos.
Ela: Que bom te ver, faz quanto tempo...
Ele: É, vc parece estar muito bem. Tá até bronzeada...
Ela, esquivando-se de mais conversa: Artificial. Bom, tô com um pouco de pressa, vou indo. Nos vemos por aí.
Ele: Então tá, te cuida.
Os pés de Luisa a levaram para os laticínios, mesmo ela tendo saído dali há pouco, de onde pegara os danoninhos que estavam na sua cestinha. “Danoninhos? Droga, agora ele viu que eu amadureci um monte”, martirizou-se a moça. E não era só isso: ao lado dos danoninhos repousavam biscoitos passatempo e cenourinhas da Turma da Mônica. Ele estava rindo daquilo, teve certeza. No calor da hora, nem lembrou do que tinha na cestinha dele, além das uvas. Acha que viu uma caixa que podia ser de qualquer coisa, até bombons para alguém. Luisa se odiou por pensar como uma mulherzinha paranóica.
Devia ter falado com ele direito. Mas como ia acertar agora se sempre fazia tudo errado? Resignou-se e foi pro caixa. Lá, entre um bipe e outro, entendeu que não eram infantis apenas sua alimentação e suas roupas: ela era uma criança. Foi embora, conheceu outras pessoas, raramente o viu.
Eduardo gostava de Luisa porque ela era criança. Nunca conseguiu entender porque ela o evitou.
5 de março de 2009 | Postado por Carla às 22:31 0 comentários
Nova síndrome ataca centenas
Apesar de já se tratar de uma epidemia engana-se quem pensa que ela atinge apenas as castas mais decadentes da nossa sociedade. Todo dia pessoas de sangue nobre e traços de realeza aparecem contaminados. Apesar dos números alarmantes de contágio a prevenção e a cura são mais simples do que parecem. A SinAE (Síndrome Alérgica a Educação) ataca pessoas de todas idades. Entre os sintomas mais clássicos estão o repúdio a cumprimentos de qualquer natureza (bom dia, olá, como vai?), a tradicional cara de antipatia quando você tenta ser simpático, e em alguns casos é possível perceber a expressão de dor no rosto da pessoa quando são obrigadas a terem uma atitude de educação.
Nas ruas os atingidos aumentam proporcionalmente ao fluxo de pessoas. Em horários de picos você pode conviver, tocar, passar, olhar, mas jamais ser visto, sentido, prezado por dezenas, centenas de milhares deles. Talvez o velho costume interiorano de cumprimentar quem passa na rua, mesmo que não se conheça, tenha se tornado obsoleto e tão raro que só é possível de ser presenciado em sociedades primitivas intocadas pelos intangíveis valores da metrópole.
Talvez nada possa se comparar a um ‘bom dia’ proferido por uma voz desconhecida. O prazer de ouvir e responder será o eterno desconhecido dos atingidos pela SinAE. A cura é fácil depende de apenas uma atitude de desapego do orgulho e do entendimento que por mais imaculado que possa ser um nome ou status social continua valendo aquela máxima: algo que alguém fez, qualquer um pode fazer!
Postado por Leo às 22:11 0 comentários