Noites Estranhas - V

Depois de um final de semana prolongado segue a continuação da história. Espero que apreciem sem moderação!

Abraço a todos!

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Paula estava praticamente pronta para a tal festa de aniversário. Ao saber da presença de Guto dispensou mais alguns minutos de atenção para a maquiagem. Não queria exagerar. O visual tinha de ser perfeito. A roupa estava posta e a escolha não poderia ter sido melhor: uma blusa e uma minissaia. Não chegava a ser vulgar, mas as coxas torneadas e inebriantes certamente atrairiam olhares, e assim foi.

Ao chegarem na festa os olhos de homens e mulheres do pequeno salão miravam uma única direção: as pernas de Paula. Os homens as desejavam. As mulheres invejavam e fingiam insignificância. O fato é que estavam realmente incomodadas com tanta beleza.

Após os abraços na aniversariante e entregaram o presente, as amigas resolveram pegar algo para beber. Ao se aproximarem da mesa de destilados encontraram Guto, cumprimentaram-no, conversaram um pouco e depois se afastaram. O clima era bom. As pessoas estavam alegres e a noite de sábado não terminaria naquele salão.

Perto da 1h a turma inteira decidiu ir para uma boate e prolongar a comemoração. Com menos carros que pessoas, as caronas começaram a surgir. Priscila foi com Débora e umas outras amigas. Paula com Guto e uma tia da aniversariante – daquelas metidas a modernas e festeiras – que ficaria em casa. Alegre e descontraída a tiazona demonstrava sinais de que o álcool a afetara. Falou bastante com os dois, inclusive algumas coisas inconvenientes:

- Não foram vocês dois que desapareceram nas férias do ano passado na casa de praia?

O silêncio permaneceu por um tempo até que Guto tomasse a frente:

- Acredito que não, pelo menos eu não me lembro disso – olhou para Paula que apenas concordou com a cabeça.

Depois que deixaram Salete em casa – esse era o nome da tia moderna – a primeira frase de Guto fez Paula estremecer:

- É claro que eu me lembro. Jamais esqueceria aquela noite.

Podia ser gentileza demais ou a cantada mais furada do mundo, mas Paula sorriu. Antes de chegarem ao local da etapa complementar da festa os dois conversaram, deram risada, pararam num posto e tomaram mais uma cerveja.

Ao pisarem na boate o grupo os esperava ansiosamente. Dé sorriu como se entendesse e Paula com apenas um olhar esclareceu a amiga que nada havia acontecido. O prédio misturava traços antigos com toques atuais na iluminação e configuração do espaço. A pista de música eletrônica foi a escolhida para reiniciar a noite. Paula dançou por cerca de uma hora aquela batida interminável e contagiante.

Discretamente deliciar-se no espaço dedicado exclusivamente ao samba. Quando mais nova, todos diziam que ela só perdia no requebrado para a Globeleza, depois Valéria Valenssa entregou o posto e ela não teve mais concorrência. Guto percebeu a saída da moça e não perdeu tempo em seguí-la. Ambos fingiram surpresa ao se encontrarem:

- Precisava tomar uma água em um ambiente mais calmo – disse Guto

- Quero mesmo é sambar – retrucou Paula enquanto girava e requebrava os volumosos quadris

Ele não perdeu tempo e mostrou o domínio dos passos. Riram. Depois de dançarem algumas músicas separados o jovem se aproximou da dona das belas coxas. Eles se olharam e logo após Paula girar ele a puxou pra perto de dele. Abraçou firme e vagarosamente. Apreciou o corpo dela aproximando-se centímetro a centímetro e beijou-a. Ela não resistiu. Retiraram-se para um local mais discreto e dividiram seus corpos, deixaram-se tocar e aproveitaram a luxuria daquele momento até serem interrompidos.

Quem iria atrapalhar o reencontro de Paula e Guto? Seria o tiozão? Seria a namorada de Guto? Confira isso e MUITO mais no próximo capítulo!

Noites estranhas - IV

Antes muito tarde do que muito mais tarde.

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Giovani definitivamente não era um homem inexperiente, sabia envolver uma mulher. Estava ali, a poucos centímetros de seus lábios, podia sentir seu calor e seu perfume envolvente, mas não a beijou, sequer se aproximou mais.

- Se cuida menina, e se beber na noite, pode chamar o teu táxi.

Paula sorriu e abriu a porta do carro. Giovani esperou ela abrir o portão, depois a porta. Ela já estava no quarto quando ouviu o carro arrancar. Preferiu nem pensar no que acontecera, suas ideias pareciam boiar na cerveja que havia bebido. Quando se deitou, viu o teto girar. Só conseguiu dormir depois de colocar um dos pés no chão.

Acordou de sobressalto, e foi trabalhar saboreando as lembranças do ocorrido há poucas horas. Se sentiu uma louca por ser tão permissiva com as investidas do tal Giovani. De fato, se ele quisesse fazer-lhe algum mal teria feito, pois ela estava sozinha, indefesa e um tanto embriagada. Mas não: afora suas frases de pedreiro conquistador, havia se comportado como um gentleman. As coisas não se encaixavam na cabeça de Paula. Se ele se comportava como se a desejasse, porque não aproveitou a oportunidade? Será que estava tentando descobrir alguma coisa? Seqüestro? Assalto? Pouco provável. O que então? Seria casado? Coisa boa, imaginou, não era. Como fora ingênua em permitir-lhe saber seu telefone e endereço. Por um instante, arrependeu-se.

Por outro lado, não tinha motivos concretos para duvidar do caráter de Giovani. E se ele fosse daqueles que, enquanto jovens, só pensam em enriquecer e, quando se vêem perto dos 40, decidem viver a adolescência perdida? Era uma hipótese considerável. O fato é que esse ser misterioso provavelmente a telefonaria naquele sábado, ela precisava estar preparada, precisava saber o que dizer.

Encontrava-se numa enrascada e, secretamente, essa ideia a excitava. Decidiu que não ia facilitar um novo encontro mas, caso ocorresse, ia ser a vez dela conseguir informações sobre Giovani. Da próxima vez, ia ser como ela quisesse.

Antes do meio-dia, lembrou-se de ligar para Débora, saber como estava. A amiga disse que a cabeça ainda doía, mas que se lembrava muito bem da noite estranha, com gente esquisita, que passaram na véspera. Combinaram de se encontrar no final da tarde para irem juntas ao aniversário de uma terceira amiga. Ia ser uma reuniãozinha simples, no salão de festas do prédio de Priscila.

Quando ambas estavam no quarto de Débora, se arrumando para a tal festinha, o celular de Paula vibrou. No visor, o que mais temia: ele. Decidiu não atender de primeira, depois se arrependeu, enfim. Dé, vendo a perturbação que a situação lhe causava, advertiu: - Essa noite vai ser loooonga! Lembra do Guto, primo da Priscila que você ficou nas férias passadas? Pois é, vai estar na festa e perguntou se você ia.

Como terá sido o desfecho de mais essa noite estranha? Descubra no V capítulo!

Noites Estranhas - Capítulo III

Antes tarde do que mais tarde ;)

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Paula brincou e ensaiou uma volta ao bar. Tarde demais. Ela deu de cara com o tal tiozão.

- Desculpa - pediu sem graça

- Tome cuidado, você pode se machucar, ou me machucar, desse jeito – largou o grandalhão com um tom sarcástico.

Desconcertada, a morena de olhos claros tentou ser simpática e descontrair o climão que ficara entre o trio. Giovani não perdeu a oportunidade e convidou as duas para mais algumas cervejas. Débora queria ir para casa, mas o olhar de Paula gritava o desejo de ficar e descobrir se tudo fora mesmo uma coincidência. A contragosto a amiga ruiva aceitou o convite, afinal já tinha tomado parte da noite com seus problemas amorosos e deveria retribuir a parceria.

De volta ao bar conversaram noite a dentro. Falaram de amenidades, trocaram algumas intimidades permitidas pelo grau de embriaguez, mas ainda assim Paula não criara coragem para esclarecer o bilhete, o homem no carro, o encontro no bar. Giovani mantinha-se firme, não demonstrava ser afetado e deleitava-se com as confidências que Paula e Débora faziam sem perceber.

Débora pediu licença e deslocou-se até o banheiro, não sem antes cutucar discretamente a amiga por debaixo da mesa. Paula sentiu as mãos suarem e o coração disparar, ela deveria aproveitar a oportunidade e esclarecer tudo. Sem pensar muito ela fitou os olhos verdes no seu interlocutor e tascou:

- Sabe? Olho pra você e tenho a impressão de que o conheço de algum lugar? – Droga - pensou ela - comecei errado ele vai sacar facilmente que estou jogando verde para colher maduro.

- Pois é – respondeu ele -, já a vi algumas vezes, bem menos do que gostaria, mas já nos encontramos em algumas oportunidades.

A morena sorriu disfarçadamente, saboreou mais um gole de cerveja (que agora não era a mais barata do local), e balançou a cabeça. Nesse tempo Dé voltou do banheiro e convidou a amiga para irem para casa.

- Estou mal – sussurrou no ouvido da morena.

Vendo a impossibilidade que a ruiva tinha para dirigir se ofereceu para levá-la até em casa. Giovani não perdeu a oportunidade e lançou novo convite:

- Mas depois você irá para casa sozinha? Nada disso – ele mesmo respondeu antes que Paula pudesse pensar -, eu acompanho as duas e depois levo você em segurança.

Paula sentiu medo naquele momento, poderia ou não aceitar, mas como já tinha ido até aquele ponto decidiu seguir em frente e aceitou.

Depois de deixar o carro da parceira na garagem e acomodá-la confortavelmente na cama, ela seguiu para o seu destino.

Entrou no Fusion preto do tiozão, acomodou-se no banco de couro e não pode deixar de perceber a artimanha do benfeitor ao colocar Jack Jhonson no som do carro. Sabia que aquele era um truque de um conquistador barato. Mesmo assim elogiou a escolha.

- É um dos meus preferidos – disse

- Eu sei – respondeu Giovani

A jogada dele poderia ser apenas mais uma tentativa de impressioná-la, porém Paula sentiu um frio na barriga. Algo não estava certo. Sem perceber ele a levava pelo caminho exato de sua casa. Seria mais uma coincidência? Martelava a duvida na cabeça dela. Mas enfim ele perguntou por onde deveriam seguir. Aquilo confortou as emoções da garota.

Após guiá-lo por algumas ruas escuras e esburacadas a morena apontou uma casa simples, porém com ares de aconchego de um verdadeiro lar. Ele estacionou. Olharam-se por alguns segundos e a morena agradeceu a carona. Gentilmente, Giovani sugeriu a troca de telefones, a moça consentiu. Mais alguns segundos de silêncio e ela reafirmou o adiantado da hora e despediu-se.

Giovani aproximou-se para abraçá-la. Colocou a mão no ombro dela e sentiu a pele exposta próximo às alças finas do vestido preto. Pode sentir também a respiração ofegante de Paula. Aproximou-se ainda mais do rosto de feições sutis e não perdeu tempo.

O que teria acontecido? Giovani beijou Paula? Ou teria ele confessado toda a verdade para a jovem? Seria aquilo um seqüestro? Não perca o próximo capítulo de Noites Estranhas.

Noites estranhas II

Mais um!

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Paula já estava de pijamas e com uma caneca de chá na mão quando seu celular tocou. Era Débora, sua amiga, dizendo que precisava conversar, que a buscaria em casa para beberem alguma coisa, afinal era sexta-feira. Paula só trabalharia depois das 9h no sábado, por isso decidiu, mesmo cansada, sair com a amiga e tentar dar um fim decente àquele dia. Aceitou, desde que a noite não fosse de exageros.

As moças deram voltas pelo centro da cidade à procura de algum barzinho calmo, onde fosse possível conversar sem gritar. Mas o que viam eram lugares lotados de rapazes com colares de coquinho e pseudo-adolescentes com tatuagens clichês. De onde surgia tanta gente todo início de verão? Optaram por um bar que julgaram estar menos pior; pudera, os preços eram incompatíveis com bolsos estudantis. Bebendo uma long neck das mais baratas, Paula ouviu pacientemente a amiga relatar suas desventuras amorosas com seu ex-namorado. Ele a havia convidado para passar um fim de semana na praia e, quando chegaram, qual foi a surpresa? O bruto propôs que se hospedassem no apartamento da outra. Paula ficou abismada com tamanha cara de pau. Lá pelas tantas chegaram mais duas amigas que, junto com a cerveja, fizeram com que o volume das conversas e risadas aumentasse consideravelmente, chamando a atenção dos vizinhos de mesa.

Lá pelas 2h30min, Paula e Débora decidiram que era hora de ir. Passaram no caixa e rumavam para a porta. Enquanto isso, um homem entrava. Um homem moreno e forte vestido displicentemente: camiseta preta justa, calça jeans e tênis. Era um homem com mais de 30 anos. Mais de 35 com certeza. E ele vinha. E vinha de encontro a elas. Não ao encontro de, mas de encontro a. E vinha reto, e vinha pisando firme... e não tinha cara de Zé Mayer... e vinha com o olhar fixo em Paula, não diretamente em seus olhos. Ela sentiu uma pontinha de medo, mas não desviou. Quando se aproximaram a ponto de se cruzarem, ele disfarçou o olhar e seguiu, claro que dando a típica olhada masculina para trás, como Débora pôde observar.

No caminho para o estacionamento, já não podiam falar de tanto rir. Concluíram que deviam ter grudado uma caixa de Bubbaloo na cruz, pois não era possível atraírem tipos tão bizarros. Dé lembrou que aquele cara e ela frequentava a mesma academia. Era um cara quieto, sempre na dele, praticando suas artes marciais.

Quando chegavam no carro, Paula deu um xilique, dizendo que o automóvel ao lado era o do sujeito que vira horas antes, na saída da faculdade, que tinha certeza, que era boa em memorizar placas. Dé só olho pra ela de canto e disse: - Sinto muito, mas esse é o carro do tiozinho fortinho que acabamos de ver entrar. Lembrou-se dele estacionado próximo à academia.

Paula sentiu ganas de voltar. Ia encarar aquele homem, saber o que ele queria com ela. Por outro lado, tudo podia ser um mal-entendido... mas ela tinha de saber.

Será que elas tiveram coragem de voltar? E quais eram as intenções do tiozão misterioso? Tudo isso e muito mais estará no próximo capitulo (ou não)!!!

Noites estranhas

Bom dia!
Passados os dias mais rigorosos do inverno, O Hiperbólico deixa de hibernar. A partir desse instante, está no ar mais um dos nossos peculiares folhetins. Peculiares porque são escritos de uma forma inédita, por dois autores tresloucados e perdidões. Isso porque cada um escreve um pedaço de acordo com o que lhe der na telha, e depois o outro tem que se virar e dar uma sequência (coerente, de preferência) para a história. Ou seja, a gente começa sem saber onde vai parar. A gente também não sabe direito as novas regras ortográficas (nem as antigas!) mas a gente tentamos.


Noites estranhas

Era quase meio dia quando chegou em casa, abriu o portão e apanhou as correspondências. Já na cozinha começou a examinar o amontoado de papel. Folhetos de lojas, algumas contas e uma folha de caderno amassada. Pensou ser mais uma brincadeira das crianças da escola do bairro que insistiam em colocar coisas estranhas nas caixinhas de correio da vizinhança.

No bilhete algo escrito lhe chamou a atenção. Uma mensagem de poucas palavras sem assinatura: “Adorei o seu sorriso. Espero que amanhã possa vê-la novamente”. Bobagem, pensou ela. Realmente aquelas crianças estúpidas estavam querendo infernizar o dia de alguém.

Abriu a geladeira e apanhou uma lasanha congelada. Paula odiava lasanha. Lembrou que deveria ter passado no mercado antes de voltar para casa. Agora pouco importava. Eram quase 13h e ela precisava comer algo rápido e voltar para o trabalho. Assim fez. Alguns minutos no micro-ondas, comeu um pedaço, deixou o restante sobre a pia, escovou os dentes, retocou a maquiagem e voltou para a loja de roupas a poucas quadras de casa.

A tarde fora monótona e infinitamente longa, com poucas vendas e muita gente entrando para dar apenas uma “olhadinha”. Nada irrita mais uma vendedora do que os olheiros. A mulher obesa que pede uma calça quatro números menor, reclama do tamanho da confecção e se irrita quando lhe oferecem algo maior. Se quiser realmente se vingar de alguma cliente experimente oferecer-lhe uma roupa um número maior. Elas preferem não respirar dentro de uma calça (que parece ter sido embalada a vácuo) a admitir que precisam emagrecer um pouco. E saem da loja bem faceiras, com um carnê de quinze prestações na bolsa e, na sacola, uma calça jeans que, uma vez vestida, as faz parecer um colchonete enrolado e amarrado.

Trabalhar na loja da tia era cômodo, pois o parentesco lhe proporcionava mordomias, mas Paula constatou que não dava mais para adiar: precisava dar um rumo profissional à vida. No segundo semestre do curso de Sistemas da Informação, decidiu que ia procurar um estágio o quanto antes. Mas por hoje, bastava terminar aquele dia aparentemente inútil.

Às 22h40min, quando saía da faculdade, já podia sentir a maciez dos seus lençóis de malha. Mas uma surpresa a deixou intrigada: um carro, aparentemente estacionado em frente à faculdade, arrancou assim que seus olhos cruzaram com os do motorista. Podia perfeitamente ser coincidência, mas aquilo ficou-lhe martelando na cabeça, principalmente porque a escuridão das películas e da noite não permitiram ver a face do misterioso condutor.
Teria esse fato alguma relação com o bilhete da caixa de correspondência? Descubra no próximo capítulo.