Noites estranhas VI

Depois de semanas de hiato, ei-lo!

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Aquela mistura ficou perigosa demais. O desejo que sabia despertar em Guto - e nos demais homens - junto com várias doses de vodka a fez agir puramente por instinto. E foi bom. Como era bom estar ali, envolvida por braços firmes, recebendo carinhos pelo corpo... podia ser errado, feio e imoral.... mas era bom! Não importava se esse Guto não tinha uma reputação das melhores, se seus beijos chamassem a atenção de quem estava ao redor, estava curtindo... sentindo as batidas da música no peito e a visão ofuscada pelas luzes... deu-se o luxo de aproveitar.

Na verdade, esse momento de luxúria durou só alguns minutos, até Débora interromper, puxando Paula pelo braço, com mais força do que o necessário. – Guria, dá um jeito nesse telefone. O Giovani já mandou mil mensagens e também ligou várias vezes... o que é que aconteceu ontem e você não me contou, heim Paula? – disse furiosa a amiga.

A morena abriu os olhos, fazendo um esforço enorme para enxergar a amiga e compreender cada palavra proferida por Débora. Débora, percebendo que faltava pouco para Paula chegar ao ápice da embriaguez, pediu licença a Guto, e levou-a para o banheiro. Lá, Paula leu as mensagens que Giovani mandara para seu celular, enquanto este repousava na bolsa de Débora. “Oi menina, como vai? Quais seus planos para hoje?”, era a primeira delas. “Por que não responde? Quero muito te ver...”, dizia a segunda, duas horas depois. “Tá se fazendo ou está com outro? Não paro de pensar em você, atende!” Paula horrorizou-se com a última. Qual seria a intenção daquele estranho abusado? Achou melhor ir embora, antes que seu estômago reclamasse dos incontáveis copos de vodka ou – pior ainda – Giovani resolvesse aparecer. Débora e as amigas concordaram em ir embora, desde que passassem em algum lugar para saciar a fome da madrugada. Guto se incluiu no grupo, que parou em uma lancheria de qualidade duvidosa, a única que aberta àquela hora.

Sentaram os cinco em uma mesa, conversando animadamente enquanto esperavam porções de batatas-fritas. Paula, sonolenta pelo álcool, tomava coca-cola na tentativa de se manter consciente. Guto aproveitava-se da situação, oferecendo seu ombro para ampará-la. Já eram quase 6 da manhã, a noite já não estava mais tão escura, quando a canela de Paula foi chutada fortemente por Débora. Isso porque um Fusion preto acabara de passar em alta velocidade em frente à lancheria. O sono de Paula deu lugar ao medo, que ela nem sabia por que sentia, uma vez que mal conhecia o tal Giovani, não lhe devia nada, era um doido. Paula procurou disfarçar a preocupação, mas logo sentiu um iceberg em seu estômago. Era Giovani, pisando firme e entrando na lancheria.

Ele a olhou rapidamente, e foi rápido para o caixa, onde comprou qualquer coisa e, sem olhar para trás, se dirigiu para a porta.

Teria Giovani ido embora? Teria voltado para conversar com Paula? Teria outra à sua espera no Fusion?

Descubra no próximo capítulo!

Noites Estranhas - V

Depois de um final de semana prolongado segue a continuação da história. Espero que apreciem sem moderação!

Abraço a todos!

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Paula estava praticamente pronta para a tal festa de aniversário. Ao saber da presença de Guto dispensou mais alguns minutos de atenção para a maquiagem. Não queria exagerar. O visual tinha de ser perfeito. A roupa estava posta e a escolha não poderia ter sido melhor: uma blusa e uma minissaia. Não chegava a ser vulgar, mas as coxas torneadas e inebriantes certamente atrairiam olhares, e assim foi.

Ao chegarem na festa os olhos de homens e mulheres do pequeno salão miravam uma única direção: as pernas de Paula. Os homens as desejavam. As mulheres invejavam e fingiam insignificância. O fato é que estavam realmente incomodadas com tanta beleza.

Após os abraços na aniversariante e entregaram o presente, as amigas resolveram pegar algo para beber. Ao se aproximarem da mesa de destilados encontraram Guto, cumprimentaram-no, conversaram um pouco e depois se afastaram. O clima era bom. As pessoas estavam alegres e a noite de sábado não terminaria naquele salão.

Perto da 1h a turma inteira decidiu ir para uma boate e prolongar a comemoração. Com menos carros que pessoas, as caronas começaram a surgir. Priscila foi com Débora e umas outras amigas. Paula com Guto e uma tia da aniversariante – daquelas metidas a modernas e festeiras – que ficaria em casa. Alegre e descontraída a tiazona demonstrava sinais de que o álcool a afetara. Falou bastante com os dois, inclusive algumas coisas inconvenientes:

- Não foram vocês dois que desapareceram nas férias do ano passado na casa de praia?

O silêncio permaneceu por um tempo até que Guto tomasse a frente:

- Acredito que não, pelo menos eu não me lembro disso – olhou para Paula que apenas concordou com a cabeça.

Depois que deixaram Salete em casa – esse era o nome da tia moderna – a primeira frase de Guto fez Paula estremecer:

- É claro que eu me lembro. Jamais esqueceria aquela noite.

Podia ser gentileza demais ou a cantada mais furada do mundo, mas Paula sorriu. Antes de chegarem ao local da etapa complementar da festa os dois conversaram, deram risada, pararam num posto e tomaram mais uma cerveja.

Ao pisarem na boate o grupo os esperava ansiosamente. Dé sorriu como se entendesse e Paula com apenas um olhar esclareceu a amiga que nada havia acontecido. O prédio misturava traços antigos com toques atuais na iluminação e configuração do espaço. A pista de música eletrônica foi a escolhida para reiniciar a noite. Paula dançou por cerca de uma hora aquela batida interminável e contagiante.

Discretamente deliciar-se no espaço dedicado exclusivamente ao samba. Quando mais nova, todos diziam que ela só perdia no requebrado para a Globeleza, depois Valéria Valenssa entregou o posto e ela não teve mais concorrência. Guto percebeu a saída da moça e não perdeu tempo em seguí-la. Ambos fingiram surpresa ao se encontrarem:

- Precisava tomar uma água em um ambiente mais calmo – disse Guto

- Quero mesmo é sambar – retrucou Paula enquanto girava e requebrava os volumosos quadris

Ele não perdeu tempo e mostrou o domínio dos passos. Riram. Depois de dançarem algumas músicas separados o jovem se aproximou da dona das belas coxas. Eles se olharam e logo após Paula girar ele a puxou pra perto de dele. Abraçou firme e vagarosamente. Apreciou o corpo dela aproximando-se centímetro a centímetro e beijou-a. Ela não resistiu. Retiraram-se para um local mais discreto e dividiram seus corpos, deixaram-se tocar e aproveitaram a luxuria daquele momento até serem interrompidos.

Quem iria atrapalhar o reencontro de Paula e Guto? Seria o tiozão? Seria a namorada de Guto? Confira isso e MUITO mais no próximo capítulo!

Noites estranhas - IV

Antes muito tarde do que muito mais tarde.

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Giovani definitivamente não era um homem inexperiente, sabia envolver uma mulher. Estava ali, a poucos centímetros de seus lábios, podia sentir seu calor e seu perfume envolvente, mas não a beijou, sequer se aproximou mais.

- Se cuida menina, e se beber na noite, pode chamar o teu táxi.

Paula sorriu e abriu a porta do carro. Giovani esperou ela abrir o portão, depois a porta. Ela já estava no quarto quando ouviu o carro arrancar. Preferiu nem pensar no que acontecera, suas ideias pareciam boiar na cerveja que havia bebido. Quando se deitou, viu o teto girar. Só conseguiu dormir depois de colocar um dos pés no chão.

Acordou de sobressalto, e foi trabalhar saboreando as lembranças do ocorrido há poucas horas. Se sentiu uma louca por ser tão permissiva com as investidas do tal Giovani. De fato, se ele quisesse fazer-lhe algum mal teria feito, pois ela estava sozinha, indefesa e um tanto embriagada. Mas não: afora suas frases de pedreiro conquistador, havia se comportado como um gentleman. As coisas não se encaixavam na cabeça de Paula. Se ele se comportava como se a desejasse, porque não aproveitou a oportunidade? Será que estava tentando descobrir alguma coisa? Seqüestro? Assalto? Pouco provável. O que então? Seria casado? Coisa boa, imaginou, não era. Como fora ingênua em permitir-lhe saber seu telefone e endereço. Por um instante, arrependeu-se.

Por outro lado, não tinha motivos concretos para duvidar do caráter de Giovani. E se ele fosse daqueles que, enquanto jovens, só pensam em enriquecer e, quando se vêem perto dos 40, decidem viver a adolescência perdida? Era uma hipótese considerável. O fato é que esse ser misterioso provavelmente a telefonaria naquele sábado, ela precisava estar preparada, precisava saber o que dizer.

Encontrava-se numa enrascada e, secretamente, essa ideia a excitava. Decidiu que não ia facilitar um novo encontro mas, caso ocorresse, ia ser a vez dela conseguir informações sobre Giovani. Da próxima vez, ia ser como ela quisesse.

Antes do meio-dia, lembrou-se de ligar para Débora, saber como estava. A amiga disse que a cabeça ainda doía, mas que se lembrava muito bem da noite estranha, com gente esquisita, que passaram na véspera. Combinaram de se encontrar no final da tarde para irem juntas ao aniversário de uma terceira amiga. Ia ser uma reuniãozinha simples, no salão de festas do prédio de Priscila.

Quando ambas estavam no quarto de Débora, se arrumando para a tal festinha, o celular de Paula vibrou. No visor, o que mais temia: ele. Decidiu não atender de primeira, depois se arrependeu, enfim. Dé, vendo a perturbação que a situação lhe causava, advertiu: - Essa noite vai ser loooonga! Lembra do Guto, primo da Priscila que você ficou nas férias passadas? Pois é, vai estar na festa e perguntou se você ia.

Como terá sido o desfecho de mais essa noite estranha? Descubra no V capítulo!

Noites Estranhas - Capítulo III

Antes tarde do que mais tarde ;)

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Paula brincou e ensaiou uma volta ao bar. Tarde demais. Ela deu de cara com o tal tiozão.

- Desculpa - pediu sem graça

- Tome cuidado, você pode se machucar, ou me machucar, desse jeito – largou o grandalhão com um tom sarcástico.

Desconcertada, a morena de olhos claros tentou ser simpática e descontrair o climão que ficara entre o trio. Giovani não perdeu a oportunidade e convidou as duas para mais algumas cervejas. Débora queria ir para casa, mas o olhar de Paula gritava o desejo de ficar e descobrir se tudo fora mesmo uma coincidência. A contragosto a amiga ruiva aceitou o convite, afinal já tinha tomado parte da noite com seus problemas amorosos e deveria retribuir a parceria.

De volta ao bar conversaram noite a dentro. Falaram de amenidades, trocaram algumas intimidades permitidas pelo grau de embriaguez, mas ainda assim Paula não criara coragem para esclarecer o bilhete, o homem no carro, o encontro no bar. Giovani mantinha-se firme, não demonstrava ser afetado e deleitava-se com as confidências que Paula e Débora faziam sem perceber.

Débora pediu licença e deslocou-se até o banheiro, não sem antes cutucar discretamente a amiga por debaixo da mesa. Paula sentiu as mãos suarem e o coração disparar, ela deveria aproveitar a oportunidade e esclarecer tudo. Sem pensar muito ela fitou os olhos verdes no seu interlocutor e tascou:

- Sabe? Olho pra você e tenho a impressão de que o conheço de algum lugar? – Droga - pensou ela - comecei errado ele vai sacar facilmente que estou jogando verde para colher maduro.

- Pois é – respondeu ele -, já a vi algumas vezes, bem menos do que gostaria, mas já nos encontramos em algumas oportunidades.

A morena sorriu disfarçadamente, saboreou mais um gole de cerveja (que agora não era a mais barata do local), e balançou a cabeça. Nesse tempo Dé voltou do banheiro e convidou a amiga para irem para casa.

- Estou mal – sussurrou no ouvido da morena.

Vendo a impossibilidade que a ruiva tinha para dirigir se ofereceu para levá-la até em casa. Giovani não perdeu a oportunidade e lançou novo convite:

- Mas depois você irá para casa sozinha? Nada disso – ele mesmo respondeu antes que Paula pudesse pensar -, eu acompanho as duas e depois levo você em segurança.

Paula sentiu medo naquele momento, poderia ou não aceitar, mas como já tinha ido até aquele ponto decidiu seguir em frente e aceitou.

Depois de deixar o carro da parceira na garagem e acomodá-la confortavelmente na cama, ela seguiu para o seu destino.

Entrou no Fusion preto do tiozão, acomodou-se no banco de couro e não pode deixar de perceber a artimanha do benfeitor ao colocar Jack Jhonson no som do carro. Sabia que aquele era um truque de um conquistador barato. Mesmo assim elogiou a escolha.

- É um dos meus preferidos – disse

- Eu sei – respondeu Giovani

A jogada dele poderia ser apenas mais uma tentativa de impressioná-la, porém Paula sentiu um frio na barriga. Algo não estava certo. Sem perceber ele a levava pelo caminho exato de sua casa. Seria mais uma coincidência? Martelava a duvida na cabeça dela. Mas enfim ele perguntou por onde deveriam seguir. Aquilo confortou as emoções da garota.

Após guiá-lo por algumas ruas escuras e esburacadas a morena apontou uma casa simples, porém com ares de aconchego de um verdadeiro lar. Ele estacionou. Olharam-se por alguns segundos e a morena agradeceu a carona. Gentilmente, Giovani sugeriu a troca de telefones, a moça consentiu. Mais alguns segundos de silêncio e ela reafirmou o adiantado da hora e despediu-se.

Giovani aproximou-se para abraçá-la. Colocou a mão no ombro dela e sentiu a pele exposta próximo às alças finas do vestido preto. Pode sentir também a respiração ofegante de Paula. Aproximou-se ainda mais do rosto de feições sutis e não perdeu tempo.

O que teria acontecido? Giovani beijou Paula? Ou teria ele confessado toda a verdade para a jovem? Seria aquilo um seqüestro? Não perca o próximo capítulo de Noites Estranhas.

Noites estranhas II

Mais um!

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Paula já estava de pijamas e com uma caneca de chá na mão quando seu celular tocou. Era Débora, sua amiga, dizendo que precisava conversar, que a buscaria em casa para beberem alguma coisa, afinal era sexta-feira. Paula só trabalharia depois das 9h no sábado, por isso decidiu, mesmo cansada, sair com a amiga e tentar dar um fim decente àquele dia. Aceitou, desde que a noite não fosse de exageros.

As moças deram voltas pelo centro da cidade à procura de algum barzinho calmo, onde fosse possível conversar sem gritar. Mas o que viam eram lugares lotados de rapazes com colares de coquinho e pseudo-adolescentes com tatuagens clichês. De onde surgia tanta gente todo início de verão? Optaram por um bar que julgaram estar menos pior; pudera, os preços eram incompatíveis com bolsos estudantis. Bebendo uma long neck das mais baratas, Paula ouviu pacientemente a amiga relatar suas desventuras amorosas com seu ex-namorado. Ele a havia convidado para passar um fim de semana na praia e, quando chegaram, qual foi a surpresa? O bruto propôs que se hospedassem no apartamento da outra. Paula ficou abismada com tamanha cara de pau. Lá pelas tantas chegaram mais duas amigas que, junto com a cerveja, fizeram com que o volume das conversas e risadas aumentasse consideravelmente, chamando a atenção dos vizinhos de mesa.

Lá pelas 2h30min, Paula e Débora decidiram que era hora de ir. Passaram no caixa e rumavam para a porta. Enquanto isso, um homem entrava. Um homem moreno e forte vestido displicentemente: camiseta preta justa, calça jeans e tênis. Era um homem com mais de 30 anos. Mais de 35 com certeza. E ele vinha. E vinha de encontro a elas. Não ao encontro de, mas de encontro a. E vinha reto, e vinha pisando firme... e não tinha cara de Zé Mayer... e vinha com o olhar fixo em Paula, não diretamente em seus olhos. Ela sentiu uma pontinha de medo, mas não desviou. Quando se aproximaram a ponto de se cruzarem, ele disfarçou o olhar e seguiu, claro que dando a típica olhada masculina para trás, como Débora pôde observar.

No caminho para o estacionamento, já não podiam falar de tanto rir. Concluíram que deviam ter grudado uma caixa de Bubbaloo na cruz, pois não era possível atraírem tipos tão bizarros. Dé lembrou que aquele cara e ela frequentava a mesma academia. Era um cara quieto, sempre na dele, praticando suas artes marciais.

Quando chegavam no carro, Paula deu um xilique, dizendo que o automóvel ao lado era o do sujeito que vira horas antes, na saída da faculdade, que tinha certeza, que era boa em memorizar placas. Dé só olho pra ela de canto e disse: - Sinto muito, mas esse é o carro do tiozinho fortinho que acabamos de ver entrar. Lembrou-se dele estacionado próximo à academia.

Paula sentiu ganas de voltar. Ia encarar aquele homem, saber o que ele queria com ela. Por outro lado, tudo podia ser um mal-entendido... mas ela tinha de saber.

Será que elas tiveram coragem de voltar? E quais eram as intenções do tiozão misterioso? Tudo isso e muito mais estará no próximo capitulo (ou não)!!!

Noites estranhas

Bom dia!
Passados os dias mais rigorosos do inverno, O Hiperbólico deixa de hibernar. A partir desse instante, está no ar mais um dos nossos peculiares folhetins. Peculiares porque são escritos de uma forma inédita, por dois autores tresloucados e perdidões. Isso porque cada um escreve um pedaço de acordo com o que lhe der na telha, e depois o outro tem que se virar e dar uma sequência (coerente, de preferência) para a história. Ou seja, a gente começa sem saber onde vai parar. A gente também não sabe direito as novas regras ortográficas (nem as antigas!) mas a gente tentamos.


Noites estranhas

Era quase meio dia quando chegou em casa, abriu o portão e apanhou as correspondências. Já na cozinha começou a examinar o amontoado de papel. Folhetos de lojas, algumas contas e uma folha de caderno amassada. Pensou ser mais uma brincadeira das crianças da escola do bairro que insistiam em colocar coisas estranhas nas caixinhas de correio da vizinhança.

No bilhete algo escrito lhe chamou a atenção. Uma mensagem de poucas palavras sem assinatura: “Adorei o seu sorriso. Espero que amanhã possa vê-la novamente”. Bobagem, pensou ela. Realmente aquelas crianças estúpidas estavam querendo infernizar o dia de alguém.

Abriu a geladeira e apanhou uma lasanha congelada. Paula odiava lasanha. Lembrou que deveria ter passado no mercado antes de voltar para casa. Agora pouco importava. Eram quase 13h e ela precisava comer algo rápido e voltar para o trabalho. Assim fez. Alguns minutos no micro-ondas, comeu um pedaço, deixou o restante sobre a pia, escovou os dentes, retocou a maquiagem e voltou para a loja de roupas a poucas quadras de casa.

A tarde fora monótona e infinitamente longa, com poucas vendas e muita gente entrando para dar apenas uma “olhadinha”. Nada irrita mais uma vendedora do que os olheiros. A mulher obesa que pede uma calça quatro números menor, reclama do tamanho da confecção e se irrita quando lhe oferecem algo maior. Se quiser realmente se vingar de alguma cliente experimente oferecer-lhe uma roupa um número maior. Elas preferem não respirar dentro de uma calça (que parece ter sido embalada a vácuo) a admitir que precisam emagrecer um pouco. E saem da loja bem faceiras, com um carnê de quinze prestações na bolsa e, na sacola, uma calça jeans que, uma vez vestida, as faz parecer um colchonete enrolado e amarrado.

Trabalhar na loja da tia era cômodo, pois o parentesco lhe proporcionava mordomias, mas Paula constatou que não dava mais para adiar: precisava dar um rumo profissional à vida. No segundo semestre do curso de Sistemas da Informação, decidiu que ia procurar um estágio o quanto antes. Mas por hoje, bastava terminar aquele dia aparentemente inútil.

Às 22h40min, quando saía da faculdade, já podia sentir a maciez dos seus lençóis de malha. Mas uma surpresa a deixou intrigada: um carro, aparentemente estacionado em frente à faculdade, arrancou assim que seus olhos cruzaram com os do motorista. Podia perfeitamente ser coincidência, mas aquilo ficou-lhe martelando na cabeça, principalmente porque a escuridão das películas e da noite não permitiram ver a face do misterioso condutor.
Teria esse fato alguma relação com o bilhete da caixa de correspondência? Descubra no próximo capítulo.

Elevador - Último capítulo

Prezados leitores desculpas pela demora na postagem no último capítulo de Elevador. Os compromissos profissionais... blá blá blá! Chega de lenga-lenga. Espero que gostem!!

Abraço a todos!

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Amanda sorriu discretamente e cumprimentou-o. O rosto de Tiago não era aquele do vizinho espinhento que ela encontrara nas escadas, nem mesmo daquele adolescente tardio com quem passou a noite a conversar. O olhar de Tiago era estranho. Nem brabo, nem feliz, nem triste, nem nada. Estava literalmente com cara de paisagem.

A loira sueca torceu para que o elevador fosse rápido, mas ele nunca era. Aqueles poucos segundos de descida pareciam uma eternidade no espaço compartilhado com aqueles dois tipos tão contrastantes. A caixa metálica fazia o silêncio se dissipar e quanto mais a luz dos andares piscava mais longe o chão parecia. Por que ela estaria preocupada? Não devia nada àquele espinhento enxerido, mas mesmo assim ele a incomodara.

Betinho pensava em como seria o reencontro com Vivi depois de tudo que se passara aquela noite. Queria repetir, mas sabia que Amanda não daria chances a ele caso não tomasse uma atitude em relação a sua namorada que agora sustentava imponentes galhadas sobre a sua testa. Aquele não era o momento de pensar nisso. Estava feliz. Havia conseguido mudar sua imagem de conquistador barato e, acima de tudo, tinha beijado os doces lábios da loira. Tinha sentido a maciez da pele de Amanda, o cheiro de seus cabelos, e o calor do corpo dela. Com certeza ela havia gostado. O sorriso nos lábios a entregava. Naquele instante Betinho percebia que Amanda não era como a sua Vivi. Ela era mais, tinha mais, e podia muito mais. Ele queria experimentar.

Tiago não entendia o que estava acontecendo, por que Amanda o olhara com aquela cara de assustada? Será que ele tinha presenciado alguma coisa que não devia? Pouco importava. O espinhento esperava ansiosamente que aquele contêiner de sobe e desce chegasse ao andar térreo. Era uma viagem longa, de poucos segundos, mas de um tempo psicológico interminável.

Finalmente o solavanco da parada. A porta se abriu e Tiago foi depressa à direção da portaria onde uma meio-loira-meio-morena reclinava-se sobre o balcão. Betinho e Amanda saíram conversando e nem perceberem a velocidade do espinhento enxerido. Seguiram na direção da porta e enquanto Amanda digitava a senha do alarme Betinho virou-se de costas por um instante e sentiu como se um vagão de trem caísse sobre a sua cabeça.

O espinhento e a meio-loira-meio-morena pareciam um só, beijavam-se com volúpia. Era como se fosse um pesadelo, a Vivi, em quem ele tanto confiava, estava lá. Beijando o enxerido. Como aquela vaca podia fazer isso com ele? Ele tinha que tirar satisfação. Chegou perto e a puxou pelo braço. Vagabunda seria um elogio frente a tantos impropérios proferidos à namora... a ex... nem sabia o que ela era. Nesses segundos Amanda só teve tempo de se virar ao escutar os gritos. Vivi partia pra cima dela e a agarrara pelos cabelos. O que tinha Amanda a ver com a situação? Tiago e Betinho trataram de apartar a briga.

A loira sentiu-se ofendida e mandou que seu amante fosse embora, entrou no elevador e desapareceu túnel a cima, sem uma boa quantia de seus cabelos loiro virgem.
No saguão a discussão continuou por mais alguns minutos até que Vivi decidiu que não devia continuar aquele bate-boca e foi-se embora na direção de seu Gol branco.

Betinho e Tiago sem entender nada do que havia acontecido decidiram que ainda era cedo, e que a noite podia lhes reservar surpresas melhores. Decidiram ir para um bar onde beberam e riram da situação. Até se perderem nos braços de outras meio-loiras-meio-morenas.

ELEVADOR - Sétimo Capítulo

Enfim, ei-lo!!!!
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- Só pode ser gay! Bradou Adri, ao saber dos acontecidos na visita do vizinho estranho.

– Me espanta você, Amandinha, que dispensou a noite dos sonhos com um semi-Brad Pitt, e ainda trocou o seu precioso soninho por um café na madrugada com um mala, feio e que só te contou lorota. Deus dá asas pra quem não sabe voar! Indignou-se.

Ainda dentro de seu pijama da Hello Kitty, Amanda limitou-se a dirigir um olhar de urso panda com sono para Adri. Afinal eram 7h18min, não era o momento de argumentar, mas de encher as olheiras de corretivo e, pelo menos, estar de corpo presente no trabalho dali a 40 minutos. Isso era o que Amanda pensava.

Enquanto isso, na portaria do prédio, um certo rapaz aguardava. O porteiro até suspeitou daquele sujeito, mas não houve como pensar mal de um cara tão boa pinta. Duas balzaquianas que saíram do prédio logo cedo deixaram duas poças de baba diante de tão, digamos, encantadora criatura. Não, não era o Betinho da festa de ontem: era Gilberto Júnior.


O deslumbre do rapaz fazia jus ao frisson que Amanda causara na noite anterior. Sapato, calça social, camisa e óculos escuros. Parecia que tinha saído de um outdoor da Aramis.


Os fatos da noite anterior desestabilizaram completamente o tico e o teco de Betinho (o trocadilho é por sua conta hahaha). O rapaz não suportava a ideia de passar por bobão, precisava falar o quanto antes com Amanda. Por isso, a seguiu discretamente depois da festa. Parou em frente ao prédio, tomou coragem e telefonou. Diante da indiferença com que ela recebeu sua ligação, saiu dali com a certeza de que voltaria, e aquela seria a vez dele. Sentia um misto de orgulho com... vontade de estar perto. Era estranho.


A cara de Amanda quando abriu o portão do prédio foi impagável. Seus instintos eram de defesa, mas seus olhos e sorrisos a traíram.


- Olha só, não se assuste, eu vim aqui pra conversar contigo. Ontem você me deixou mal, acho que seria bom a gente se conhecer melhor, quero mudar a impressão que tu teve de mim.


Amanda era só perplexidade. Peraí, essa parte não era parte de seu plano. E agora? Era preciso manter a pose. Mas ela queria. Que mulher não ia querer??? Ela era livre, ele era quem ela queria, porque não?


- Nossa, que susto, não precisava tudo isso! Disse, quase ironicamente. – Podemos conversar sim, vamos combinar.


- Hoje. A que horas você pode?


- Sei lá, depois do meu trabalho. Ou mais tarde... Droga! Estava sendo fácil demais, pensou.


- Posso passar lá e te buscar. Ofereceu-se nosso Don Juan.
- Melhor não, venho direto pra casa, e quando você quiser, passa aqui.
- Ok. Quer que eu te leve agora? Acabei te atrasando...
- Não, pode ir, são três quadras só.


E aquela sexta-feira transcorreu surrealmente.


À tardinha, Amanda não sabia se se arrumava para sair, se o convidaria para entrar... ela não queria ser vista por aí com ele, as pessoas pensam tanta coisa... era melhor convidá-lo para entrar.


Mal deu tempo dela sair do banho, Betinho a chamava pelo celular. Ela o convidou para entrar, conversaram e... ficaram. Eram dois bobos. Só que na hora da despedida, lá pelas 22h43min, o casal encontrou Tiago, o espinhento, no elevador.


Como ficou a cara do vizinho nessa hora? Teria o elevador quebrado novamente?
Descubra isso e muito mais no próximo capítulo!!!

Para descontrair... O Caso da Dona Galinha!


Enquanto o novo capítulo de Elevador não sai do forno aproveitem essa conversa de MSN que chegou pelo email. Para preservar a identidade dos envolvidos seus nomes foram trocados. A conversa segue na íntegra (sic). Confira:


Moça da galinha diz:
baaa deixa d contar

Amiga da moça da galinha diz:
isso aiii

Moça da galinha diz:
hj a galinha da minha mae coloco o 1º ovo
mas o ovo fico entalado
e ela teve q ajudar a tirar o ovo

Amiga da moça da galinha diz:
hahahahahahahahhahahahahahaha
o sério?
como q fico entalado guria??
miseráverzinha da galinha

Moça da galinha diz:
séério
se a minha mãe ñ tinha ido lá leva comida
e por um acaso espiado ela
a coitada ia morre com o ovo metade fora e metade dentro do cú

Amiga da moça da galinha diz:
Coitada da galinha...poretaH....HAHAHAHAHA

Moça da galinha diz:
sim neh
coitada
imagina ela sendo velada
com o ovo metade de cada lado
metade dRento e metade fora
ia ser ilaááááário

Amiga da moça da galinha diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAH

Moça da galinha diz:
DAÍ MINHA MÃE EMPURRO O OVO DE VOLTA
Se fosse eu,eu quebrava ele
q dai ele murchava
e saia mais facil neh
ahahauha

Amiga da moça da galinha diz:
Aham
HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHA
AHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA
chega renata q me doi a barriga

Moça da galinha diz:
baRiga
hj uma loka q trabalha cmg disse assim: ai q dor de baRiga
eu comecei a rir
e tive q ir lá pra tras no estoque
d tanto rir

Amiga da moça da galinha diz:ck diz:
ma pq??
como q tua mãe fez tira o ovo??

Moça da galinha diz:
a minha mãe pucho eu acho
pq o ovo devia tah mais pra fora
do que pra dentro neh
hauhauhauha


SEM COMENTÁRIOS. Aliás um comentário: existem coisas que o dinheiro não compra!

Elevador - Sexto capítulo

Tiago cumprimento o trio. Amanda fez as honras da casa e apresentou o rapaz espinhento às amigas. Dessa vez nada de beijos, apenas um aceno de mão e um “oi” entoado em coro pelas duas. Já era tarde e mesmo assim a loira cedeu um pouco de seu tempo ao rapaz. Adri e Nanda decidiram entrar no apartamento para esperar a companheira.

Sentada no corredor com os pés descalços Amanda interpelou Tiago sobre o que fazia ele aquela hora no corredor do prédio usando apenas pijama. A face dele ficou corada. Ela percebeu que fora inconveniente. Mesmo constrangido ele respondeu com a coragem de quem enfrenta um leão na arena do coliseu.

- Fiquei sem café, e estava criando coragem para bater a sua porta e pedir um pouco emprestado.

Amanda não se conteve e riu da situação, o álcool ainda tinha efeito sobre ela. Afinal era demais para uma cabeça só. Dar um fora no cara que mais havia cobiçado e agora desperdiçar seu tempo com aquele inconveniente (e nunca é demais ressaltar) espinhento.

Ela convidou-o para entrar. Meio desconfiado ele aceitou o convite. Amanda fez o melhor café da vida de Tiago. Sentados em um sofá de almofadas macias em uma sala a meia luz continuaram conversando. As amigas da loira haviam ido dormir. Conversavam baixo para não atrapalhar.

Tiago contou para Amanda da vez em que fora, com um amigo, a uma festa na casa de desconhecidos, bebeu todas, jogou dardos em um alvo, foi a uma danceteria e bebeu mais. Lá ele tentou conquistar garotas das formas mais esdrúxulas de se pensar. Até que enfim utilizou a cantada infalível. Chegou perto de uma conhecida a beijou no rosto e sem cerimônias tascou: Posso fazer uma coisa? E beijou a garota. Em menos de dez minutos estava convidando ela para cuidar dele que estava prestes a vomitar todo o liquido ingerido na noite.

Amanda questionou-se sobre qual instinto seria capaz de fazer um cara se achar no direito de pedir para uma garota cuidar dele sendo que tinham um ‘caso’ há menos de dez minutos. Achou interessante. Talvez ela tivesse feito a mesma coisa com Betinho naquela noite, embriagou-o com suas curvas e deixou que ele vomitasse sozinho na sarjeta cuidado por algum amigo que passasse por lá. Mas Amanda não era uma vadia dessas de rua que tranza em qualquer beco.

A essa altura Tiago já estava na metade de outra história e ela nem sabia sobre o que ele falava. Resolveu oferecer uma bebida quente ao rapaz. Uma bela dose de licor de pitanga (receita familiar). Ele aceitou e os dois brindaram e beberam. A madrugada já se esticava para alcançar a manhã e Tiago viu que deveria ir.

Amanda o acompanhou até a porta e lembrou-se que havia esquecido o celular dentro do carro. Teria de ir até a garagem para buscá-lo, mas tinha medo de circular pelo prédio sozinha e àquela hora. Convidou o espinhento para acompanhá-la.

A luz do elevador acendeu, a porta abriu e eles entraram. Amanda apertou o “SS” para irem até a garagem. Tiago não perdeu a oportunidade e mostrou o dedo do meio à câmera do elevador (sempre vigiada por um ou outro vizinho mala).

A porta abriu novamente e a garagem era escura. Andaram um pouco pelo clarão da luz do elevador até que os sensores de movimento acionaram as fracas luzes da garagem. Estava tudo na penumbra. Amanda foi até o carro e pegou o celular, nele uma chamada não atendida de um número estranho, suspeitou que fosse Betinho. Desconsiderou. Tiago permaneceu segurando o elevador para que pudessem voltar. Subiram até o 15º andar.

Os dois resolveram sair ao mesmo tempo da caixa metálica que sobe e desce. Seus corpos se aproximaram involuntariamente. Amanda sentiu o corpo de Tiago e viu seu rosto novamente ficar vermelho.

Naquela mesma hora o celular desperta e Betinho acorda do outro lado da cidade. Tomou o café-da-manhã às pressas, vestiu seu melhor ternos e os sapatos de pelica italiana, pegou a chave do carro e saiu.


Aonde iria o homem tão cobiçado em um minuto e tão escrotamente rejeitado em outro? Queria ele se vingar? Descubra no próximo capítulo de Elevador.

Elevador - Quinto Capítulo

Os olhos verdes de Betinho paralisaram Amanda. Tal qual na prova do líder do Big Brother, parecia que seus scarpins haviam sido colados com super bonder no chão. Os lábios de Betinho pronunciavam palavras agradáveis e mostravam dentes brancos, muitos deles. Sua pele morena exalava um perfume e um calor que os sentidos de Amanda jamais esqueceram. Se ela se aproximasse um pouquinho que fosse, seus lábios o tocariam.

Não era isso que ela queria. Droga, havia exagerado naquela conquista, se sentia ridícula pelo plano inventado. Mas era tarde demais. Betinho agora via nela não uma mulher, mas um par de pernas, seios e outros acessórios. Ela não queria isso dele. Afinal, essas partes estão disponíveis à vontade noite afora, qualquer uma podia oferecer. Queria que ele a amasse, que deixasse aquele amontoado de silicone e mega hair com uma bolsinha Victor Hugo pendurada. 

Aí a nossa não por acaso loira heroína entendeu que aquela aparente auto-estima em forma de homem lindo escondia um guri bobinho. E ela ia se aproveitar disso. Desvencilhou-se singelamente de Betinho, alegando que sentia muito, mas não lembrava dele.

Como quem volta de um transe, olhou para a porta do banheiro. Por uma fresta, pôde ver os olhos curiosos de Adri e Nanda, que vibravam com a situação. Betinho ficou todo sem jeito, fechou a cara, disfarçou, foi pro bar e depois pra sua mesa. A troupe de Amanda procurou conter a vontade de se mijar de rir, mas depois da quantidade de álcool ingerida isso já era pedir demais.

Betinho, mais bêbado, até tentou uma segunda aproximação. Amanda deu bola, deu até seu número de telefone, claro que para eventuais trabalhos publicitários. 

Que noite! Mas era hora de ir, o plano havia sido mais ou menos executado - e amanhã é dia de são pega! Lembrou Nanda. Esvaziaram seus copos e voltaram vitoriosas.

Ao chegarem na porta do apartamento, qual não foi a surpresa? Lá estava Tiago, o vizinho recém conhecido, esperando por elas. A noite ainda não havia acabado.

E agora, o que este inconveniente vizinho queria? Descubra no próximo capítulo

Elevador - Quarto capítulo





Prezados leitores! Desculpas pela demora na postagem do quarto capítulo. Para compensar o atraso divulgo a foto da Amanda. Sem mais delongas vamos a continuação da nossa história. Obrigado pelas visitas!

P.S.: agradecimentos ao Marcón que ajudou a encontrar a foto da Amanda!




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O ataque não podia falhar. Ela como boa loira que se preze jamais falhara na conquista de um homem. Sempre teve todos que desejou, até aquele momento. Embora Betinho a olhasse com luxúria nunca tiveram uma aproximação mais íntima. Betinho vivia rodeado de mulheres bonitas, siliconadas, e de cabelos loiros oxigenados. Não, essas não chegavam nem perto do frescor que proporcionava o loiro sueco de Amanda.

O balanço do cabelo era diferente, assim como o cheiro, e o toque da pele. Tudo original, nenhuma peça adquirida em uma clínica de cirurgia plástica montada em qualquer esquina. Orgulhava-se disso.

No bar não seria diferente, todos pararam com a chegada das três. Na mesa de Betinho e dos amigos o silêncio que interrompeu a conversa, por alguns segundos, pareceu eterno. Já dizia Einstein na Teoria da Relatividade: uma hora ao lado de quem se ama parece um segundo. Um segundo sentado em brasas parece uma hora. Naquela noite Amanda sabia exatamente o que queria e, principalmente, como conseguir.

As três sentaram-se em uma mesa nem tão distante, mas nem tão próxima da mesa onde estavam os rapazes. Aquela distância era estratégica poderia se insinuar discretamente e perceber sinais de reciprocidade.

Na mesa dos amigos já se amontoavam algumas garrafas de cerveja quando elas chegaram. Sem demora foram atendidas pelo garçom e solicitaram uma cerveja, que em menos de um minuto estalava, na mesa, de tão gelada. Brindaram. Os olhos de Amanda volta e meia se desviavam da conversa e apontavam para a mesa de Betinho, ele respondia.

Em meio a tanta conversa com as amigas e um brinde de ‘saiputa’ destinado a Viviane, Amanda decidiu que era hora de ir ao banheiro. Não podia apenas levantar como qualquer mortal, aquela ida ao banheiro deveria ser fatal. O vestido deixava suas pernas torneadas a mostra, resolveu utilizá-las. Uma puxadinha discreta e as pernas seriam capazes de destruir até os mais sólidos casamentos, as amigas riram da situação. E ela foi. Claro que não sozinha, afinal fêmeas jamais vão ao banheiro sozinhas. Suas fiéis escudeiras a acompanharam.
Amada foi a primeira a sair e aguardou na porta, afinal o cubículo era apertado demais, precisava de ar, estava com calor.

Enquanto as amigas não saiam Amanda ficou contemplando o corredor. Betinho e um amigo apontaram e ela não sabia o que fazer. Tentou ser discreta, mas suas formas a impediam.
Betinho se aproximava cada vez mais. Cumprimentou-a com um beijo no rosto, aquilo não a satisfaria, ela queria mais. O perfume a ajudou, ficou impregnado nas narinas de Betinho. Ele puxou conversa.

O que irá acontecer com a nossa loira sueca? Terá ela, enfim, a sua recompensa? Viviane chegaria para atrapalhar tudo com um enorme barraco? Confira no próximo capítulo.

Elevador - Terceiro Capítulo

Foi só um sustinho: a chave ameaçou emperrar, mas após recorrer a todos os santos, Amanda foi auxiliada pelas entidades celestiais e a chave girou, a porta abriu. Mal se recompôs e contou seus percalços para Adri e Nanda, suas roomates, e já teve de sair denovo. Precisava chegar cedo na agência, pois marcara com um novo cliente a apresentação de um plano de mídia. Ah, esqueci de falar, Amanda é publicitária. 

Felizmente o elevador funcionou e Amanda chegou na agência sem mais imprevistos. Toda pimpona, pegou suas tabelas, anúncios e vts e esperou o cliente misterioso na sala de reuniões. Quinze minutos depois do combinado, chegou um senhorzinho gordo e grisalho, com cara de vovô simpático. Mas ele não estava sozinho. O comerciante trouxera a filha, Viviane. Era a meio-loira-meio-morena-que-só-come-um-grão-de-bico-por-dia. E com nariz de capivara. O vovozinho até se assustou com as faíscas que saíram na hora em que os olhares delas se cruzaram. 

O vovô aprovou tudo. Vivi, nada. Disse que estava tudo muito caro, que as artes eram de mau-gosto, que era tudo muito comunzinho. Amanda teve certeza que aquela era uma briga pessoal. E sentiu despertado um dos instintos mais primitivos: a disputa de duas fêmeas pelo macho alfa. Isso mesmo, quem aquela tábua tostada pensava que era? Ia roubar dela o Betinho. Era uma questão de horna.

Despachou pai e filha, passou aquele trabalho para um colega e começou a traçar seu plano maligno. Ia ser naquela semana.

Na quinta-feira, escolheu cuidadosamente o que vestir. Primeiro, o sapato. Um scarpin preto cujo salto poderia ser usado como arma. Nas pernas, nada além de óleo de amêndoas Johnson baby. E um vestido vermelho todo comportadinho na frente, sumário atrás. Assim como os índios se pintavam para suas batalhas, Amanda sacou seu arsenal de maquiagem e aprontou-se para a guerra. Definitivamente, estava para o crime. Soltou seus cabelos estilo Grazi Massafera e convocou Adri e Nanda para a acompanharem naquela empreitada.

Depois de passarem pela metade dos bares da cidade, finalmente encontraram Betinho e seus amigos. Quando Amanda, Adri e Nanda entraram, com seus ventos próprios lhes balançando os cabelos, o burburinho daquele bar chegou a silenciar. Era hora do ataque.

E agora? O que fez a nossa insana heroína? Não perca o próximo capítulo.

Conviver


Sem aquele velho chalalá de aceitar o outro como ele é com suas diferenças e limitações. Conviver é muito mais que isso, é aprender. Aprender que quando uma pessoa estiver com problemas de gases ela irá dizer: “preciso soltar um pum”. E todo mundo no carro vai achar aquilo tão espontâneo que vai se rachar de rir. É bem difícil falar isso para alguém que se conhece a pouco tempo, ou pelo menos que não se teve a oportunidade de conviver diretamente.


Uma pessoa com quem convivi mais intensamente durante uma semana me contava que certa vez seu marido e ela haviam saído para jantar com uma amiga. Ele (que chamarei de Aristeu para preservar a sua identidade) não conhecia a tal amiga (que nomearei de Julieta). Durante o jantar as duas conversavam incessantemente e o pobre Aristeu quieto. Sempre ficava assim frente a desconhecidos.


De repente um silêncio sepulcral tomou conta da mesa e a convivência daquelas horas permitiu que Aristeu fosse sincero. Ele apontou para Julieta e sem delongas sentenciou: “você está com um feijão no dente”.


Coisa bonita é essa tal sinceridade que a convivência nos proporciona. É incrível ver as pessoas gritarem “caralho se não te pego, filho da puta!” quando enfim matam aquele mosquito que estava deixando todos irritados.


Conviver é aprender.


Como poderia saber que a pleura é a pelezinha que recobre nossos pulmões? Como saberia detalhes de um procedimento de sonda vesical? E a teoria da Dispersão de Michel Foucault? E você sabe como pular uma cerca para entrar num dos mais movimentados eventos literários do país?


Essas são coisas que só aprendemos assim, conversando, rindo e em meio a tantas outras bobagens. Nossos mestres que nos desculpem, mas as aulas mais chatas nos ensinam muitas coisas, porém a maior parte delas não ficará guardada em nossa memória.

Elevador - Capítulo II

O elevador não estava lá. Podia ver aquele imenso fosso que se apresentava vertiginosamente acima de sua cabeça. Não, aquele não era um dia legal. Resolveu tirar o sapato de salto e subir até seu andar pelas escadas. Não seria um caminho agradável, afinal eram inúmeros degraus até o 15º andar. No caminho pouco utilizado, e reservado apenas para emergências como aquela, encontrou coisas estranhas.

Entre baratas e outros insetos jazia no esquecimento uma meia branca abandonada do 4º andar. Mais acima com o fôlego debilitado e a distância entre os degraus aumentando cada vez mais encontrou um vizinho de um apartamento qualquer que vira poucas vezes. Ele também se embrenhava no esforço de vencer cada andar com o fôlego de quem está acostumado a elevadores, escadas rolantes e muito ar condicionado.

Ele estava com o rosto visivelmente cansado, enrubescido e suado. As espinhas não combinavam com ele. Aparentava ter saído da puberdade já há alguns anos, podia estar enganada.

- Olá – ele disse como que num último suspiro
- Oi – respondeu ela tentando ser simpática naquela situação

Depois de três andares de conversa descobriu que ele se chamava Tiago e morava no apartamento de frente ao seu. Estranho nunca ter prestado atenção nele. Depois de mais alguns andares começou a achá-lo engraçado.

Tiago nunca tinha prestado atenção em Amanda. Não que ela não fosse bonita, apenas nunca a tinha visto tão de perto. As pessoas quando olhadas de perto são muito diferentes. Conversaram mais um pouco enquanto no alto das escadas aparecia a placa que indicava o 15º andar. Riram da situação. Parecia que tinham conquistado o prêmio em alguma maratona.

De frente para as respectivas portas despediram-se. Tiago entrou no número 1502. Amanda colocou a chave na porta do 1501, resolveu girá-la. Não acreditava que aquilo estava acontecendo de novo.

O que estaria acontecendo? Seria mais uma artimanha lazarenta do destino? Alguma coisa poderia salvar o dia de Amanda? Confira no próximo capítulo.

Elevador

Hiperbólicos em ação! No ar o primeiro capítulo de Elevador, a nova novela sabe-se-lá de que horas. E sem comerciais!

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Amanda acordou diferente, estranha. Teve vontade de usar sua calça jeans mais justa, uma bem clarinha. Coloriu perigosamente suas maçãs do rosto, lábios e contornou os olhos. Foi para a agência onde trabalhava, ondulando o vento com seus cabelos.

Talvez fossem os genes entrando em ação, alertando que era preciso preservar a espécie. Amanda sentia agora vontade de ter alguém só pra ela. Assistia filmes e desejava ser a mocinha. Ela, que aos 13 anos deu seu primeiro fora, gostou da brincadeira, e a vem praticando há mais de dez anos. Escolhia seus homens a dedo, utilizando critérios compreensíveis apenas para fêmeas da sua espécie: das loiras lindas e inteligentes.

Gilberto era um rapaz quieto e discreto, mas sua mera presença vinha lhe amolecendo as pernas.  Filho de um empresário, o Betinho, como era conhecido, cuidava de uma das oito lojas da família. Óbvio que vivia cercado de loiras siliconadas e rinoplastizadas, mas fazer o que. Amanda bateu o olho na criatura e não teve jeito. Era o seu primeiro amor-platônico. Adolescência tardia, temia.

Só que naquela manhã ela o viu com uma dessas. Uma morena meio loira, com cara de quem comia um grão-de-bico por dia pra não engordar. E com um nariz... Ok, era bonitinha, bem arrumada e rica. Amanda sentiu o impacto. Caíra na realidade. Compreendeu que nem o Betinho, seu modelo de homem ideal, prestava. Era mais um que ficava bobo diante de uma bunda. Por um momento desejou ser a megera das comédias românticas. Desistiu e foi trabalhar, burocraticamente.

Ao meio-dia só queria voltar pra casa e tirar aquela maquiagem. Depois de quase bater o carro três vezes, entrou na garagem do prédio e, surpresa! A sua vaga estava ocupada por um palio vermelho ridículo. Teve vontade de descer e gritar. Estacionou seu carro no corredor, contou até 18, equilibrou-se no salto e rumou para o elevador. Pensou em rir da situação, mas não deu tempo. Tropeçou num saco de lixo. Comoassim um saco de lixo na garagem? O elevador chegou, a luz vermelha acendeu e a porta abriu. Era demais pra ela.

E agora, o que vai acontecer? Mais uma decepção, a recompensa pela manhã de azar ou nenhum dos dois? Descubra no próximo capítulo.

A história de Chapeuzinho Vermelho





Numa contribuição de MARCÓN, Ambrósio Marcón, confira a história de Chapeuzinho Vermelho relatada pela mídia no Brasil e por um veículo estadunidense. É daquele tipo de coisa que rola pela internet, se recebe por email, é inútil e faz qualquer um (com senso de humor) se mijar de rir.



Obs.: a imagem combina com a sexta descrição!


Acompanhe:



JORNAL NACIONAL
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um Lobo na noite de ontem...'.

(Fátima Bernardes):'... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.

PROGRAMA DA HEBE

(Hebe Camargo): '... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'

BRASIL URGENTE

(Datena): '... onde é que a gente vai parar, cadê as Autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.'

REVISTA VEJA

Lula sabia das intenções do lobo

REVISTA CLÁUDIA

Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no Caminho

REVISTA NOVA

Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama

FOLHA DE S. PAULO

Legendada foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador'.Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO

Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT

O GLOBO

Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente

ZERO HORA

Avó de Chapeuzinho nasceu no RS


AGORA

Sangue e tragédia na casa da vovó

JORNAL SUPER NOTÍCIAS

Lobo mastiga as tripas da chapeuzinho e lenhador destrói tripas do lobo para retirar a garota (foto ao lado da barriga do lobo com as tripas pra fora).

REVISTA CARAS (Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)

Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa'

PLAYBOY (Ensaio fotográfico no mês seguinte)

Veja o que só o lobo viu

REVISTA ISTO É

Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente

SUPER INTERESSANTE

Lobo mau! Mito ou verdade?

DISCOVERY CHANNEL

Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

O que é ser hiperbólico ou de onde veio o blog


Nesse mundo de loucos, há pessoas onomatopéicas, sinestésicas, paradoxais, os irônicos, os metafóricos e até os anacolúticos. E você, já pensou que figura de linguagem seria?

Nós somos hiperbólicos. Os normais têm fome. Os exagerados morrem de fome. E os hiperbólicos têm o estômago derretido pelo suco gástrico de tanta fome. As pessoas normais consideram uma pessoa feia. Os exagerados podem achá-la um demônio de feia. Prefiro não dizer o que, nós, os hiperbólicos, achamos dessa pobre pessoa.

Parece cruel ser hiperbólico, mas tem lá seu lado bom. Uma pessoa normal fica feliz. Um exagerado fica pulando de alegria (essa mistura de figuras de linguagem tá me confundindo). Um ser hiperbólico é capaz de não caber em si de tanta felicidade por um motivo pequeno, como ouvir sua música preferida. (Não confundir hiperbólico com retardado nem com bipolar. Ou então confunde, são todos loucos mesmo.)

Somos assim, passeamos pelos extremos todos os dias. Criamos esse blog porque nossa imaginação é muito, muito e exageradamente hiperbólica. E a gente pensa tanta coisa que isso acabou se materializando, e está aí O Hiperbólico.

Em pouco mais de uma semana, tivemos mais de 160 visitas! Tudo bem que eu e o Léo demos uns 50 F5 cada, e os outros 60 entraram obrigados, mas essa marca histórica merece ser reconhecida. 

Prometemos melhorar o blog e continuar escrevendo “coisas”, sem periodicidade muito menos linha editorial. Há rumores nos corredores do prédio onde funciona a redação dO Hiperbólico que o próximo post será o primeiro de uma série. 

PS: Para mostrar que me importo com nossos pobres leitores, seres ingênuos que entram aqui sabe-se lá por quê, vou premiar o visitante número um, autor do print acima, com uma barra de chocolate Talento edição limitada com nozes e macadâmia. 

Foto legenda




Aquele tipo de imagem que vale mais do que mil palavras: Faltava só um dente, para caírem TODOS!

Eu comigo


Entendi que ia ser pior do que eu imaginava na primeira noite. Não que fosse dormir todas as noites seguintes coberta com uma toalha de banho num colchão no piso de um apartamento sem móveis e sem cortinas, com caixas e sacolas pelos cantos. Muitas caixas e sacolas.

Quando girei a chave na fechadura pela primeira vez só comigo do lado de dentro tive medo de conviver com tão estranha criatura. Medo de perder a chave, de não acordar, de não dar conta dos problemas que, eu sabia, viriam aos borbotões. Ok, medos idiotas e eu tinha quem me ajudasse, mas não ia ligar pra ninguém as três da madrugada por causa de um cheirinho de gás. Ou porque a descarga do banheiro estragou. Na verdade, mais estranho que telefonar as três da madrugada pedindo ajuda pra arrumar a descarga foi a maneira com que resolvi isso sozinha: trocar a pecinha quebrada por um clipe! Óbvio! Isso se o clipe não enferrujasse e quebrasse a cada 15 dias. Mas tudo bem, tenho uma caixinha cheia de clipes.

A vida solitária tem também suas delícias. Como almoçar um iogurte sem ninguém te encher. Descobri que isso não é problema, desde que você faça um lanche caprichado às duas da tarde. Mas essa liberdade compensa: você pode almoçar um iogurte só de blusa e pantufa cantando please dont stop the music sem ninguém te achar louca. Tá, os vizinhos vão achar, mas que respeito devo a seres que ostentam na sala a estampa de um elefante roxo? Ou que reclamam que o cachorro da vizinha de cima está com as unhas tão compridas que dá pra ouvir cada passo do bicho do apartamento de baixo? Normal sou eu! E daí se a antena da minha TV era uma colher.

A primeira aranha foi inesquecível. Enorme, cheia de pernas e bem braba. Ela deu risada do meu SBP, e eu percebi que teria de usar minhas havaianas. E que ela, depois de esmagada, ia melecar a parede e eu ia ter de limpar. Botei as luvas, bati nela com as havaianas, limpei a parede e fim do problema! Isso se depois não viessem me visitar as baratas e a lagartixa. Sim, uma lagartixa dentro do box do banheiro. Mas ela se suicidou e me poupou de mais uma execução.

Hoje faz mais de um ano que troquei uma casa normal por esse cubículo. Dá saudade de ter comida à vontade, de poder sair sem medo, de ter roupa e casa limpas sem esforço. Da família e dos amigos também, mas esses eu vejo sempre e não me sinto afastada. A distância me fez entender o quanto essas pessoas são fundamentais. E essa mesma distância me proporcionou outra família, de gente que chega e senta no chão, quebra meu ralo e (argh!) pisa no meu tapetinho cor-de-rosa.

Numa rápida olhada por esse lugar, percebo que reflete a minha vida. Sempre faltando algo, arrumar as cadeiras, guardar os calçados, jogar o lixo fora, abastecer a geladeira. Mas olhando pra tudo o que eu mais gosto e tenho aqui dentro, sei que valeu a pena arrastar sozinha os móveis e levantar sempre que o despertador mandou. Talvez assim acabei exercitando algum músculo necessário pra ter força, de verdade.

Necessidades obscuras



Todos temos necessidades. Na classificação de um amigo algumas são mais obscuras que outras. Certo dia me contava que o cachorro dele, de nome Spike, era muito educado ao passear com ele na rua. Na hora da necessidade obscura ele rapidamente procurava uma moita (arbusto) para poder se deleitar ao prazer de aliviar-se. O estranho é que não contente em estar perto da moita ele alocava suas partes dentro dela para que ninguém pudesse vê-lo. Devia ser tímido. Talvez a perna manca e os olhos vesgos o deixassem com um complexo de inferioridade perante outros cães bonitos e viris. Não se sabe, até hoje ele não falou sobre isso com ninguém.

Qualquer cachorro satisfaria sua necessidade obscura à vista de todos com a maior cara de pau. Mas Spike não, ele era um cachorro diferente. Segundo meu amigo era educado. Nunca tinha parado para pensar nisso. Alguns cachorros fazem suas necessidades na frente de todo mundo, enquanto outros se escondem para fazê-lo. É estranho.

Penso que as pessoas devem compartilhar desses genes com os cães. Algumas não se sentem a vontade para satisfazer suas necessidades obscuras fora de casa. Outras em compensação não podem ver uma privada (comparada a moita) livre que já querem se achegar e utilizá-la. Nos últimos lugares em que trabalhei conheci pessoas desse tipo. Elas chegavam a ter horário marcado para ocupar a ‘moita’. Não satisfeitos em usar a ‘moita pública’, deixando putrefato o ar do ambienta comum, o faziam isso no horário de almoço, justamente quando todos os profissionais disputavam as pias para poder fazer a sua higiene oral.

Além de ser um gesto de extrema falta de respeito é também falta de higiene. Tudo bem, ninguém está livre de sofrer uma indisposição intestinal súbita. Mas todos os dias, no mesmo horário, é complicado. Ninguém deve ser obrigado a conviver com os odores alheios, principalmente de quem não se conhece, e não se convive diariamente.
A convivência obriga-nos a aceitar e compreender tais necessidades, afinal quando se divide a casa com outras pessoas estamos sujeitos a isso, mas é diferente. Neste caso existe uma estrutura comum a todos. Não é uma ‘moita pública’, mas um espaço particular aos ocupantes de certa residência.
Caros cagadores de ‘moitas públicas’ aproveitai vossa dignidade humana e utilizai o conforto de vossas casas para satisfazer necessidades obscuras. Ninguém está livre do mal intestinal súbito, mas enquanto puder evitar continuarei usufruindo do conforto proporcionado pela ‘moita’ particular e coletiva instalada em minha casa.

Inútil! A gente somos inútil!


É incrível observar como as pessoas reagem frente a uma atividade. Algumas a desempenham com exímia habilidade e perfeição, outros a executam com qualidade, outros não tão bem. Mas existem aqueles que não acertam uma única vez, e conseguem destruir qualquer coisa que toquem. A essas pessoas chamamos de INÚTEIS. E é a elas que se dedicam estas linhas mal traçadas.

Todos temos limitações. Uns mais que outros. Algumas pessoas são tão boas naquilo que fazem que impressionam a qualquer um. Existem também as desastradas. As desastradas são fantásticas, não erram por maldade, mas tem um dom inabalável de esbarrar, quebrar e atrapalhar principalmente nos momentos em que mais precisam sr discretas, mas essas não são INÚTEIS.

Das várias pessoas que conheço poucas, poucas MESMO, podem se encaixar nessa categoria. Afinal não é fácil ser um INÚTIL, é preciso treino, concentração, disposição, e, acima de tudo, vocação. Os INÚTEIS são predestinados. São criaturas míticas tocadas por uma sapiência única. Todo o conhecimento desta variedade humana é guardado em segredo para que não se espalhe e eles não percam seus postos privilegiados.

Todo mundo com certeza já deve ter presenciado um INÚTIL em ação. Eles estão por toda a parte. Na construção perto de sua casa ensaiando a Sinfonia da Marreta em pleno sábado de manhã. Em momentos especiais como formaturas, aniversários e outras festividades para garantir que a Lei seja cumprida: Se algo tem alguma chance de dar errado, dará!

Os INÚTEIS que me perdoem, mas a inutilidade deveria doer!

Noção?!

Vou brindá-los com um diálogo ocorrido num dos últimos bailes de formatura. Homens, não envergonhem o vosso gênero como esse vivente. Nós não merecemos. Se o cara é feio a gente até perdoa, mas feio e mala não tem jeito!


- Oi, desde que fomos apresentados eu fiquei interessado em vc...
- Hum... e vc lembra o meu nome?
- Não, mas é que estava muito tumultuado antes... não sou daqui, vim pra formatura do meu primo, conhece tal cidade?
- Não.
- É perto daquela outra cidade, conhece?
- Não.
- Pra chegar lá tem que passar por tais e tais cidades, sabe?
- Não.
- Conhece alguma cidade no Paraná?
- Sim, mas não a sua.
- Como vc é brava e amarga!
- Obrigada pelos elogios!
- Por que as mulheres daqui são assim?
- Hum, quer dizer que vc levou vários outros foras... será que o problema é com as mulheres daqui?
- Você só me apedreja!
- Tiau, vou ali dançar com os meus amigos.

Danoninho


Olhou para frente mais uma vez e teve certeza: era ele. Poderia se esconder entre as dezenas de prateleiras do supermercado, mas correr o risco de ser vista fugindo entre as bananas e as melancias era infinitamente pior. Ele estava de lado, colocando um cacho de uva branca num saco plástico. Quando fosse pesar suas frutas, obviamente a veria. O que fazer? Disfarçar? Sorrir? Erguer um melão pra tapar o rosto? Os quatro milésimos que restavam não foram suficientes para tomar uma decisão tão complexa.

Eduardo viu Luisa. Viu suas havaianas slim, viu sua blusinha verde e viu seu short jeans. Ela viu seu tênis nike, sua bermuda azul e sua camiseta branca. E seu sorriso com uma centena de dentes brancos, seus olhos escorrendo açúcar e seu cabelo meio em pé. O estômago de Luísa doeu nessa hora. Comoassim a encontrar no supermercado numa tarde de sábado? Que a encontrasse na rua, descabelada e com sorvete no canto da boca, mas não com aquela cara de criança assustada que tinha certeza que estava estampando. Tarde demais. Tinha que se mostrar adulta, bem resolvida, interessante, magra, inteligente, educada, feliz e simpática.

Ela: Oi...
Ele: Oi!
(beijo na bochecha)
Ela, três tons mais vermelha: Comoassim, você aqui?!
Ele, dando um soco no estômago dela com seu sorriso: É, tava aqui perto e lembrei que precisava de umas coisas...
Ela: Uvas?
Ele: Não, as uvas não estavam nos planos.
Ela: Que bom te ver, faz quanto tempo...
Ele: É, vc parece estar muito bem. Tá até bronzeada...
Ela, esquivando-se de mais conversa: Artificial. Bom, tô com um pouco de pressa, vou indo. Nos vemos por aí.
Ele: Então tá, te cuida.

Os pés de Luisa a levaram para os laticínios, mesmo ela tendo saído dali há pouco, de onde pegara os danoninhos que estavam na sua cestinha. “Danoninhos? Droga, agora ele viu que eu amadureci um monte”, martirizou-se a moça. E não era só isso: ao lado dos danoninhos repousavam biscoitos passatempo e cenourinhas da Turma da Mônica. Ele estava rindo daquilo, teve certeza. No calor da hora, nem lembrou do que tinha na cestinha dele, além das uvas. Acha que viu uma caixa que podia ser de qualquer coisa, até bombons para alguém. Luisa se odiou por pensar como uma mulherzinha paranóica.

Devia ter falado com ele direito. Mas como ia acertar agora se sempre fazia tudo errado? Resignou-se e foi pro caixa. Lá, entre um bipe e outro, entendeu que não eram infantis apenas sua alimentação e suas roupas: ela era uma criança. Foi embora, conheceu outras pessoas, raramente o viu.

Eduardo gostava de Luisa porque ela era criança. Nunca conseguiu entender porque ela o evitou.

Nova síndrome ataca centenas


Uma nova síndrome tem feito centenas de vítimas e assustado pessoas como esta que escreve. Apesar de não ser nenhum tipo de profissional da saúde nem de áreas afins esta nova enfermidade tem me deixado realmente preocupado pelo número de pessoas que atinge atualmente.


Apesar de já se tratar de uma epidemia engana-se quem pensa que ela atinge apenas as castas mais decadentes da nossa sociedade. Todo dia pessoas de sangue nobre e traços de realeza aparecem contaminados. Apesar dos números alarmantes de contágio a prevenção e a cura são mais simples do que parecem. A SinAE (Síndrome Alérgica a Educação) ataca pessoas de todas idades. Entre os sintomas mais clássicos estão o repúdio a cumprimentos de qualquer natureza (bom dia, olá, como vai?), a tradicional cara de antipatia quando você tenta ser simpático, e em alguns casos é possível perceber a expressão de dor no rosto da pessoa quando são obrigadas a terem uma atitude de educação.


Nas ruas os atingidos aumentam proporcionalmente ao fluxo de pessoas. Em horários de picos você pode conviver, tocar, passar, olhar, mas jamais ser visto, sentido, prezado por dezenas, centenas de milhares deles. Talvez o velho costume interiorano de cumprimentar quem passa na rua, mesmo que não se conheça, tenha se tornado obsoleto e tão raro que só é possível de ser presenciado em sociedades primitivas intocadas pelos intangíveis valores da metrópole.


Talvez nada possa se comparar a um ‘bom dia’ proferido por uma voz desconhecida. O prazer de ouvir e responder será o eterno desconhecido dos atingidos pela SinAE. A cura é fácil depende de apenas uma atitude de desapego do orgulho e do entendimento que por mais imaculado que possa ser um nome ou status social continua valendo aquela máxima: algo que alguém fez, qualquer um pode fazer!